terça-feira, 30 de outubro de 2018

Àqueles que não nos conhecem

Como se explica a alguém quem somos e o que conseguimos fazer se eles não estiveram lá para comprovar? 
Estava no segundo ano de curso quando fui questionada de uma forma que nunca imaginei, todos me conheciam na antiga escola e sabiam do que eu era capaz, posso dizer que me senti ofendida. Frequentei a ginástica durante 8 anos e todos na escola tinham a oportunidade de ver o nosso trabalho mas ali não... e eu não tinha noção né? Tínhamos uma aula de crianças pequenas para planear quando sou questionada se conseguiria auxiliar uma criança a fazer uma cambalhota, esclareci a experiência que tinha e recebo de resposta ‘fazer não é ensinar’. Para quem não sabe, a cambalhota é o primeira exercício ensinado na ginástica e sem me conhecerem associaram que eu não sabia fazê-lo. Fiquei com raiva, assumo. E este acontecimento, por mais mediocre que possa parecer, continua bem presente. Eu vou explicar porquê. 
Como já sabem, este ano não consegui entrar para a universidade e estou numa fase de procura de emprego, que até agora não tem sido nada fácil. Já fui a algumas entrevistas e por isso tenho me debatido... Como é que aquela pessoa que me faz meia dúzia de perguntas vai saber se eu serei uma boa trabalhadora? Se calhar sou eu que não entendo o processo de recrutamento, mas para mim não faz qualquer sentido. O emprego vai resumir-se em trabalhar e não a responder perguntas, o processo deveria ser prático. Como é que é suposto mostrar que eu sou a pessoa certa para aquela vaga? Dizendo que sou a pessoa certa? É suposto acreditarem? Se eu fosse a pessoa dos recursos humanos, não acreditava. Eu não faço ideia quem são os outros candidatos e provavelmente todos se acharam os certos para aquela vaga. Tal como eu. Hoje, irei a mais uma. E desde que soube que teria mais uma, tenho pensado... Como é que eu me destaco e mostro que estou pronta? E a resposta é... Não faço ideia. Isso faz de mim uma pessoa desorientada? Eu simplesmente vou lá e respondo da forma que acho mais acertada, naquele momento. Talvez deva mostrar-me mais superior ao que realmente sou, é isso? Tenho milhões de perguntas que preciso de resposta, porque para mim, simplesmente, não faz sentido. 
A minha mãe trabalha num hotel há muitos anos e eu desempenho funções sempre que tenho disponibilidade e desde muito cedo que estive atenta há imensidão de coisas que são precisas de fazer em uma empresa, mas para além disso, ao processo de recrutamento, que é exactamente igual ou praticamente e que muitas vezes falha. Contratam pessoa que não são, nem perto, as certas para aquele emprego e para mim, trata-se de uma perda de tempo. 
Mas com isto quero dizer que eu tenho lidado com isto de uma maneira, à minha maneira e que até agora não me tem dado resultados e eu tenho pena. Vejo-me a desempenhar variadíssimas funções, funções que não tenho experiência e adoraria ter... não me dão oportunidade e é triste. 
Todos os dias são uma aprendizagem e eu neste processo tenho retirado coisas boas para o meu futuro e descoberto uma pessoa diferente em mim. Eu sempre consegui aquilo que eu queria, quase sempre, e perceber que talvez fosse assim apenas dentro da minha bolha, do meu meio e ver-me fora dele... ui, é difícil mas estou a ajustar-me.  


quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Pois é, não entrei na faculdade.

Como podem compreender, é difícil dizer a toda a gente que vos rodeia que não entraram na faculdade. Como todos fariam, começam a calcular que não me esforcei e que tinha uma média péssima, mas a verdade não é essa. Quem me dera a mim que fosse. 
Nunca fui uma excelente aluna, era boa aluna apenas. Chumbei no 9º ano porque decidi vingar-me dos meus pais e que não iria nem para turismo, nem para economia como eles achavam que era o melhor para mim. Segui a área do desporto porque a ginástica era algo que me completava e achei que seria o melhor para mim. Tentei fazer exames nacionais para poder continuar a estudar e não consegui, o português que tínhamos no profissional não me tinha dado bases suficientes para conseguir e eu compreendi. Descobri que existiam uns cursos TESP que poderíamos fazer durante dois anos e de seguida nos dariam acesso ao ensino superior sem fazermos exames nacionais, equivalente aos CET e eu decidi inscrever-me, novamente na área do desporto, queria estudar e mergulhei de cabeça sem pesquisar outras opções. Fiz o curso com facilidade e acabei com média de 15 e deduzi que poderia entrar facilmente. Durante todo o curso me debati com a minha vontade de ser bem-sucedida e ter um emprego bem importante e que talvez na área do desporto, isso não iria acontecer. Perguntei muitas vezes aos meus professores, pessoas que devemos confiar, se poderia mudar de área, poderia eu entrar em qualquer licenciatura que eu quisesse? As respostas nunca foram certas, ou sim ou não sei e eu automaticamente associei que poderia fazer o que eu quisesse e iria ter aquele emprego que eu queria. Não recorri aos serviços académicos para me assegurar daquilo que ia fazer e mais uma vez mergulhei de cabeça e candidatei-me a área completamente diferentes e não entrei. Pois é, não entrei na faculdade. E sabem o que foi melhor? Com a minha média de 15, se me tivesse candidatado a desporto, teria entrado. Pode parecer burrice minha mas eu estava segura que queria mais para mim e não me inscrevi. Fui excluída dos cursos que eu queria porque eram fora da área e eu não tinha acesso a eles com o meu TESP. Fiquei petrificada quando percebi que não ia para a faculdade e saber que a culpa na verdade era minha. Não me informei nos sítios certos e quis seguir o meu instinto. Então e agora? Fiquei sem chão. Tinha o meu percurso delineado na minha cabeça e nunca me passou pela cabeça que algo corresse mal. E correu. 
Agora, passado algum tempo, estou sozinha em casa, á espera que o meu namorado chegue e da chamada que irei receber a saber que consegui emprego. Um emprego que eu nunca pensei ter de aceitar aos 21 anos. Mudei o meu pensamento e agora estou a escrever novas linhas para o que aí vem e vou agarrar o emprego que me oferecerem, poder ganhar algum dinheiro e ocupar algum tempo dos meus dias. Nem tudo está perdido e eu acredito que existe uma razão e eu vou encontrá-la. Podia ter feito tudo de maneira diferente e não fiz. Agora só poderei entrar na próximo ano e num curso que eu considerei que já não queria. E a minha cabeça está uma confusão a tentar perceber "porquê eu?".